sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

RELATO: A PAREDE BALANÇOU



(Ubirajara Pisão, estudante de Cultura Racional, Rio de Janeiro, RJ)

Filial do Mundo Racional na Terra: o Retiro Racional.  Fato ocorrido na construção do Centro Científico de Cultura Racional (Monumento Racional), que está ao lado da piscina do Retiro.
Como muitos já sabem, naquela obra, existia hora de pegar no serviço e não havia hora de terminar e isso, eu confesso, me incomodava um pouco, pois, o corpo físico tem suas limitações.
No inicio das obras do Monumento eu morava fora e trabalhava de segunda a sábado em uma rede de supermercados (sábado até as 12h), tirava plantão no Retiro à noite às sextas-feiras, voltava no sábado à tarde e ficava até domingo nas obras do Monumento. E na segunda-feira já saía de lá pela manhã, direto para o trabalho fora. 
Era de madrugada, o céu estava radiante, as estrelas pareciam se mover com o semblante do Mestre sentado na frente da piscina orientando o serviço. Fazia um pouco de frio e as pás e enxadas nos aqueciam com o movimento do concreto fresco que parecia não ter fim.
As máquinas eram literalmente as humanas, com as ferramentas manuais que não paravam. Ao longe, devido o número de colaboradores, poderia facilmente ser confundida com um formigueiro. 
Eu estava posicionado juntamente com muitos na frente do monumento, já bem adiantado em suas obras. Estava construindo a calçada que dá para a entrada principal do Monumento. 
Existia um mingau de fubá bem temperado com canela, erva doce, cravo, etc. mais um café forte que o Mestre nos servia pessoalmente pela madrugada. Aquela era a nossa hora de recreio e um pouco de descanso. Às vezes voltávamos para as obras e outras vezes éramos liberados.
O mingau, nós o apelidamos carinhosamente de “magau”, devido ao sotaque do encarregado da obra.
Houve uma breve pausa no concreto (coisa rara), encostei a enxada no peito, sentei nos sacos de cimento, olhei para a fisionomia dos irmãos colaboradores, as pás e enxadas se calaram, um breve silêncio naquele local, que se contrastava com o interior do Monumento, que parecia uma orquestra infinitamente bela a onde seus acordes se harmonizavam com toda madrugada. 
Eu estava muito cansado fisicamente, assim como os outros. Eu só pensava em duas coisas: no “magau” e parar um pouco com a Cultura Racional, estava literalmente abatido e o meu corpo físico se movimentava com um esforço quase que sobrenatural, achava que não ia aguentar, pensava em voltar para a Cultura Racional quando ficasse mais velho, assim teria mais amadurecimento para entender tudo aquilo. Os outros ali pareciam que pensavam a mesma coisa de como suportar tamanha missão para a nossa salvação.
O cheiro de erva doce com canela pairava no ar, estava chegando a hora do “néctar dos deuses”. O perfume doce do “magau” aliviava a dor de não se conseguir chegar até o final, a minha e a dos outros.
Nossos corpos ainda muito cansados, as enxadas paradas, olhávamos uns para os outros.  Olhamos juntos para o céu acima do Monumento Racional, quando, literalmente, o céu rasgou (não confunda com vidência), como se alguém o cortasse com uma espada, ficamos espantados sem dizer uma palavra.
Lá de dentro do enorme rasgo um outro mundo, de uma beleza que não se tem nenhum adjetivo ou qualquer palavra que se possa mencionar, pode se dizer que era muito grande, com muitos brilhos mais bonitos do que os das estrelas que conhecemos. E de lá saiu um corpo grande e brilhante prateado que desceu até próximo o telhado do Monumento e depois voltou para o mesmo lugar.
Quando aquele belo corpo de energia voltou, aquele rasgo enorme no céu se fechou, voltou as estrelas normal do céu e fortificou nossos ânimos de continuar firmes com as colaborações e estudos racionais. Olhamos uns para os outros, dezenas de nós, ninguém deu uma palavra, nenhum comentário, nossos semblantes de cansados agora eram de sorrisos, de satisfação e as pás e enxadas agora não mais faziam barulhos, elas cantavam e dançavam juntamente com nossos corpos fortificados pela comprovação de ter a honra de participar de uma construção do Mundo Racional na Terra e principalmente de continuar obedecendo ao grande Mestre sem pestanejar.
Salve todos!

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